Portfolio 60/40

A estratégia do portfólio 60/40 consiste em alocar 60% do capital em ações e 40% em títulos de renda fixa.

A estratégia tem origem junto com a Modern Portfolio Theory (MPT) é uma tentativa de fazer a alocação mais eficiente de forma a:

  • Maximizar o retorno; e
  • Minimizar os riscos.

Fundamentos

Os fundamentos que balizam a estratégia 60/40 são:

  • Aproveitar-se da baixa ou negativa correlação entre o preço das ações e dos títulos de renda fixa, reduzindo a volatilidade da carteira; e
  • Aproveitar-se do desempenho superior de longo prazo das ações, através de um peso maior dado a esse ativo.

Uma correlação negativa indica que o preço das diferentes classes de ativo se movimentam de forma inversa, isto é:

  • Quando o preço das ações cai, o preço dos títulos de renda fixa sobe; e
  • Quando o preço das ações sobe, o preço dos títulos de renda fixa cai;
Figura 1 - Exemplo de correlação negativa. IFIX (esq.) vs Taxa SELIC (dir.).

Nas finanças modernas, a volatilidade, isto é, o quanto os preços variam em relação à média ao longo do tempo, é considerado um fator de risco. A composição de uma carteira com dois ativos correlacionados negativamente, tende a reduzir a volatilidade e, portanto, reduzir o risco.

Já, quando não há correlação, a variação dos preços dos ativos acontece de forma independente, de tal forma que:

  • Ambos seguem um movimento de longo prazo comum, por exemplo, de alta; e
  • Variações no preço de uma classe acabam amortizando variações no preço da outra classe

Composição

Considerando que, em geral, os investidores aplicam em duas classes de ativos: ações e títulos de renda fixa, utilizando-se a análise estatística histórica dessas duas classes de ativos e aplicando-se os conceitos da MPT, chega-se a uma composição ideal de 60% ações e 40% renda fixa.

O resultado é:

  • Maior rendimento; e
  • Menor volatilidade.
Figura 2 - Desempenho do Portfolio 60/40 vs Ações vs Renda Fixa (supondo uma aplicação de $1.000,00 em 01/1987).

Uma análise histórica do portfólio mostra que ele consegue entregar uma boa rentabilidade (figura 2), cumprindo seu objetivo de reduzir a volatilidade (figura 3).

Figura 3 - Drawdown máximos da carteira teórica 60/40. Observe como a composição da carteira foi capaz de reduzir as quedas máximas em relação ao topo (drawdown) em anos de excessiva volatilidade. Em anos recentes o portfólio perdeu essa característica devido ao fim da correlação negativa entre ações e títulos de renda fixa nos EUA.

Execução

Idealmente, a estratégia deve ser implementada de forma que os ativos da carteira representem a classe de ativos (ações e renda fixa) como um todo. Isso pode ser feito:

  • Através de ETF; ou
  • De uma seleção de ativos bem diversificada dentro de cada classe.

Ajustes e Rebalanceamento

À medida que o tempo vai passando e o preço dos ativos se altera a participação de cada casse de ativo pode ficar fora da faixa estabelecida.

É interessante estabelecer uma faixa de tolerância (por exemplo, +/- 15%) que servirá de referência para que o investidor faça o rebalanceamento dos ativos.

Isso pode ser feito através de:

  • Novos aportes na classe de ativos que ficou para trás; ou
  • Venda dos ativos em excesso para compra dos ativos abaixo da meta;

A vantagem de se utilizar novos aportes é a diversificação no fator "preço de compra", aplicando-se uma estratégia de preço médio.

Aplicação no Brasil

Do ponto de vista da volatilidade, o portfólio 60/40 no Brasil não tende a ser muito eficiente.

Nos EUA, onde os dados que sustentam a teoria foram obtidos, títulos de renda fixa tendem a ser considerados como um porto seguro em momentos de queda no mercado acionário, fazendo com que a busca (e o preço) por esses títulos aumente quando há depreciação no preço das ações.

Isso só é possível porque as taxas de juros nos EUA são bastante estáveis e a economia tem características seculares de expansão com ciclos econômicos mais estáveis. Tais fatores permitem que a volatilidade no preço dos títulos de renda fixa seja pequena.

No Brasil as coisas são um pouco diferentes.

A correlação entre o preço dos títulos e do mercado acionário tende a ser positiva, com ambos movimentando-se na mesma direção impedindo que uma classe de ativos possa reduzir os impactos negativos causados pela outra classe na carteira de investimentos.

Figura 4 - Gráfico do IBOVESPA e do índice IMA-B (carteira de títulos públicos indexados à inflação) no período de 2017a 2023. A correlação entre esses índices no período foi de 0.86.

Além disso, a economia brasileira tende a ser muito mais cíclica que a americana, com uma tendência de longo prazo de pouco ou nenhum crescimento.

Nesse cenário, o portfólio deixa de cumprir seu objetivo de reduzir a volatilidade e amortecer as variações negativas totais.

Por exemplo, no período considerado na Figura 4, uma carteira de 60% IBOVESPA e 40% IMA-B teria um resultado pior do que o índice de Renda Fixa com uma volatilidade mais elevada (Figuras 5 e 6).

Figura 5 - Resultado da aplicação de R$1.000 no IBOVESPA, no IMA-B e em uma carteira 60% IBOVESPA/40% IMA-B.
Figura 6 - Drawdowns de um portfólio aplicado em IBOVESPA, no IMA-B e em uma carteira 60% IBOVESPA/40% IMA-B. no período de 2017 a 2023.

Possíveis Deficiências

Podem-se apontar alguns problemas em relação aos fundamentos desse portfólio:

Volatilidade como Risco

Usar a volatilidade como uma medida de risco acaba por designar como "arriscados" ativos que tem grandes variações tanto para cima quanto para baixo.

Além disso, boa parte dos ganhos além da média se dá justamente naqueles ativos que podem sofrer quedas significativas no curto prazo antes de entregarem retornos expressivos no longo prazo.

Uso de Ferramentas Estatísticas

Para que certas premissas do portfólio sejam válidas, é preciso considerar que a variação dos preços dos ativos ao longo do tempo segue uma distribuição normal, que há uma tendência de regressão à média e que as correlações tendem a se manter ao longo do tempo.

Todos essas premissas podem se tornar inválidas do dia para a noite caso algum evento extraordinário ocorra e modifique a percepção dos investidores, causando consideráveis mudanças nos preços dos ativos ou na forma como eles se correlacionam.

Essas premissas se mostraram falhas, por exemplo, em 2022 quando o Banco Central Americano iniciou uma significativa elevação das taxas de Juros simultaneamente a efeitos macroeconômicos prejudiciais ao mercado acionário, causando uma queda significativa tanto no preço das ações quanto no preço dos títulos de renda fixa, quebrando uma longa correlação inversa.

Racionalidade dos Mercados

A teoria considera que, devido a eficiência dos participantes do mercado em precificar os ativos, dificilmente um investidor será capaz de obter rendimento extra fazendo sua própria seleção, sendo mais eficiente fazer o investimento através das classes de ativos de forma ampla, ao invés de escolher ativos individuais.